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Artigos, Artigos sobre Direitos Animais.

Numa declaração enrolada, o Greenpeace confessou, em uma posição oficial, que não quer incentivar o vegetarianismo, tampouco o veganismo, num texto aparentemente postado às pressas depois da enxurrada de críticas vindas de veganos e vegetarianos, recebidas pela ONG depois que a ativista Ana Paula comemorou sua libertação da prisão russa com um churrasco com a família no Brasil. A entidade enrolou-se para esclarecer seu não incentivo ao abandono do consumo daquele alimento que é o maior culpado pela destruição da Amazônia que ela própria diz proteger.

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No texto, o Greenpeace começa a argumentar dizendo defender “uma redução drástica do consumo de proteína animal, não apenas para poupar a floresta e reduzir as emissões, mas também para a saúde humana”, excluindo completamente o respeito aos animais não humanos de seus princípios. Em seguida, relata os resultados de suas campanhas contra o consumo de carne bovina, mas curiosamente não fala uma vírgula sequer sobre a produção de outras carnes, como a de porco, a de frango e as de animais aquáticos.

Mais adiante diz reconhecer que o consumo de carnes tende a crescer dramaticamente nas próximas décadas, sem sequer afirmar que existem impactos ambientais extremamente pesados associados a esse aumento, e fala que apoia medidas como a Segunda Sem Carne, que tem sido criticada por defensores dos Direitos Animais por sua alegada permissibilidade a que os onívoros que não queiram se tornar veg(etari)anos continuem comendo carne nos seis dias restantes pelo resto da vida. Não fala um “ah” sobre campanhas pró-veg(etari)anas propriamente ditas.

No penúltimo parágrafo, o texto diz que “essa escolha [de comer carne ou não] é de âmbito pessoal”, caindo na falácia da falsa analogia entre o consumo de carne, que representa um fardo amargo e literalmente fatal para bilhões de animais não humanos a cada ano, e ações individuais sem consequências de impacto ético-moral sobre a vida alheia.

E o artigo encerra dizendo: “Não enxergamos contradição entre esse posicionamento e nossa defesa pela Amazônia. Nossas lutas têm frentes distintas a das entidades que defendem o vegetarianismo, mas são convergentes”, confessando a cegueira do Greenpeace perante tanto a contradição entre dados apresentados pela própria instituição – como a responsabilidade majoritária da produção e consumo de carne bovina pelo desmatamento amazônico (“A farra do boi na Amazônia”, 2009) e a destinação de 80% da soja produzida em fazendas na Amazônia Legal, muitas delas expandidas graças a desmatamento ilegal, a rebanhos, bovinos ou não, de pecuária intensiva e semiextensiva (“Comendo a Amazônia”, 2006) – e o costume confesso de diversos de seus membros ativos de comer essa carne.

Fica clara a situação de confusão em que a entidade está mergulhada perante a demanda cada vez maior para que passe a defender a erradicação do impacto ambiental da pecuária a partir da oposição ao consumo de seus produtos e, por tabela, sacrifique o hábito de muitos de seus membros militantes de comer carne e outros alimentos de origem animal. Aliás, ela está gaguejando e tergiversando diante da crescente pressão popular para que saia do mero conservacionismo de ações paliativas e reformistas e passe a adotar a autêntica luta de libertação animal humana e não humana como bandeira multi e interdisciplinar que leve ao triunfo da sustentabilidade.

É certo que o Greenpeace não vai conseguir continuar enrolando a opinião pública por muito tempo. Cedo ou tarde, perceberá que deverá radicalizar sua luta e interligá-la com causas libertárias, como os Direitos Animais, a revolução agrária e a emancipação das classes trabalhadoras, se não quiser cair em descrédito e passar a ser vista como uma entidade conservadora, enxugadora de gelo e ineficaz em suas causas.

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