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PANCs: Pense bem antes de arrancar aquele ‘matinho’

Você já imaginou que no seu quintal ou em terrenos baldios, sítios, praças, canteiros e jardins podem haver plantas comestíveis crescendo espontaneamente? Muitos desses vegetais acabam não sendo aproveitados pela falta de conhecimento sobre o que pode ser ingerido e como deve ser preparado.

Resgatar e difundir sabedorias tradicionais sobre as chamadas Plantas Alimentícias Não-Convencionais (Pancs) é uma forma de diversificar e enriquecer nossa alimentação. Além de fugir da lógica do mercado, pautada por interesses econômicos, que privilegia a produção de determinadas espécies, em sua maioria exóticas e cultivadas com uso de defensivos químicos.

O “Manual de hortaliças não-convencionais”, lançado em 2010 pelo Ministério da Agricultura compila 23 espécies vegetais com partes comestíveis, entre raízes, rizomas, túberas, frutos, folhas e flores. Já o livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) no Brasil”, lançado em 2014 por Valdely Kinupp e Harri Lorenzi, apresenta 351 espécies com descrição de características e fotografias para facilitar a identificação botânica, além de dicas de uso culinário.

Mas é preciso muito tempo de observação para aprender a identificar cada uma das plantas, conhecer o comportamento delas, saber a maneira e a hora certa de colher e qual a melhor forma de usá-las. Na dúvida é melhor não comer e perguntar para alguém que realmente conheça. É preciso ter cuidado também ao preparar e utilizar chás e remédios a base de plantas. Por segurança, o ideal é consultar um especialista.

Em Ubatuba (SP), a produtora rural Elizabeth Meireles Mourão vem há anos contribuindo para a disseminação das Pancs, assunto no qual se tornou referência. É um movimento que está tomando força agora”, comemora. Em sua propriedade em meio à Mata Atlântica ela diz já ter identificado ao menos 74 espécies comestíveis. Seja em sua barraca na feira livre de Ubatuba, aos sábados, ou em oficinas, ela tem sempre uma planta diferente para apresentar. Segundo Beth, as vantagens das Pancs são muitas. “As Pancs são as plantas que mais conseguem manter a sua energia vital, porque crescem naturalmente e você vai colher de imediato”, observa, lembrando que alguns alimentos viajam muitos quilômetros desde que são colhidos até chegar ao nosso prato, já não tão frescos.

Veja alguns exemplos de Plantas Alimentícias Não-Convencionais e pense bem antes de arrancar aquele “matinho” e de chamá-lo de “erva daninha”:

Alfavaca – Da mesma família do manjericão, mas com folhas bem maiores, tem sabor marcante e um cheiro delicioso. Planta rica em óleos essenciais, é ótima para ser utilizada como tempero em diversos pratos. Também é empregada na medicina popular.

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Cambucá – Fruta docinha de casca laranja quando madura e polpa mole, de textura peculiar, o cambucá é nativo da Mata Atlântica e foi considerado em risco de extinção pelo Centro Nacional de Conservação da Flora. Seu sabor é comparado ao da jaboticaba, sendo que as duas árvores pertencem à mesma família (myrtaceae) e os frutos nascem direto no tronco da planta.

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Cambuci – De cor verde (mesmo maduro) e formato inusitado, o cambuci é outra fruta brasileira nativa da Mata Atlântica. Bastante ácido para ser consumido puro, é utilizado em sucos, licores, vinhos, geleias e doces.

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Caninha do brejo, costus – Boas para os rins, muito utilizada como chá na medicina popular, as folhas também podem ser consumidas depois de refogadas.

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Juçara – Essa palmeira nativa da Mata Atlântica estava fortemente ameaçada devido à extração predatória para a retirada de seu palmito ilegalmente. Há alguns anos, ONGs e comunidades tradicionais têm divulgado e incentivado o uso da polpa dos frutos da juçara, ricos em antioxidantes, ferro, zinco, cálcio, magnésio, gorduras boas (mono e poli-insaturadas) e antocianina, um poderoso antioxidante. Diferentemente do que ocorre com o palmito, para extrair o fruto não é preciso derrubar a árvore, que, na floresta srve de alimento para diversas espécies de animais. De cada palmeira é possível extrair cerca de dois litros de polpa por ano, para ser consumida de modo semelhante ao açaí, seu parente da Amazônia. É importante divulgar o boicote total ao palmito de jussara.

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Ora-pro-nóbis – Rico em proteínas, de boa digestão e alto valor nutricional, as folhas desta planta espinhosa são muito conhecidas em algumas regiões de Minas Gerais, onde é consumida de diversas formas, seja refogada, em sopas, no feijão ou em recheios de tortas e salgados. Também conhecida como “carne de pobre”, folhas secas de ora-pro-nóbis são moídas e utilizadas no preparo da farinha múltipla, complemento nutricional no combate á desnutrição.

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Pariparoba, capeba, manjerioba, malvarisco, catajé – Suas folhas mais novas podem ser preparadas refogadas ou usadas para enrolar charutinhos. Também são utilizadas em chás na medicina popular. Espécie comum no litoral paulista.

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Saião, folha da costa, folha da fortuna – A planta se multiplica facilmente por meio das folhas, que brotam ao cair na terra, ou se enterrarmos parte delas. Têm sabor levemente azedo, e podem ser consumidas cruas, como salada e em sanduíches.

Taioba – Suas enormes folhas verdes são comestíveis depois de refogadas e podem enriquecer diversos pratos. O rizoma se assemelha ao cará e ao inhame, podendo ser consumido cozido. É preciso cuidado, pois há plantas muito parecidas com a taioba, porém venenosas.

Trapoeraba, Mariazinha, olho-de-santa-Luzia – Planta que pode ser consumida crua ou refogada, em sopas, para enriquecer bolinhos e pães, ou ainda preparada com arroz. Serve de alimento para outros animais além de nós, humanos. De sabor azedinho, também rende sucos e chás com propriedades medicinais.

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Trifólio – Erva rica em nutrientes, pode ser usada como tempero, de certa forma semelhante à salsinha. Cresce bem em ambientes sombreados e úmidos.

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Vinagreira, quiabo azedo, roselha, roseta – Da família do hibisco, as folhas podem ser cozidas com arroz, usadas para enriquecer bolinhos e utilizadas em chás. As lindas flores são usadas em geléias, licores, chás e sucos.

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* Fotos: Renata Takahashi e Thais Taniguti

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