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Em 1994, a embaixada brasileira em Washington chegou a sugerir que o país cortasse “o mal pela raiz” e impedisse uma incursão de um navio do Greenpeace “de bandeira estrangeira.

A preocupação aparece em telegramas sigilosos do Itamaraty entregues à Folha, dentro do projeto “Folha Transparência”.

Os telegramas permitem vislumbrar a quase paranoia com que o Brasil tratava a questão de soberania na Amazônia naquela época.
Um dos telegramas mais duros é de 27 de setembro de 1994 e assinado pelo então embaixador em Washington, Paulo de Tarso Flecha de Lima. Ele pede informações sobre a posição do governo a respeito de notícias de que a ONG ambientalista Greenpeace estaria prestes a iniciar o que qualifica de “guerrilha ambiental” na Amazônia.

Flecha de Lima recomenda uma posição enérgica do governo, sugerindo que os “responsáveis pelas mencionadas ameaças sejam severamente advertidos” e que o navio da ONG “tenha verificadas as condições de sua presença no Brasil”.
A expedição “guerrilheira” acabou sendo autorizada pelo presidente Itamar Franco, mas foi acompanhada à distância pelo Itamaraty – e de perto pela Marinha.
“Durante três meses, um navio-patrulha fluvial ficou nos seguindo”, recorda-se Paulo Adário, hoje diretor do Greenpeace na Amazônia, que estava a bordo do navio.
O grupo teve ativistas presos e recebeu da Polícia Federal ordem de sair do país após invadir um navio que carregava madeira.

“Ficou uma situação meio ridícula, já que eu era brasileiro e fui expulso do país”, conta o ambientalista. A ordem policial foi derrubada pela Justiça do Pará.
Segundo o ex-deputado Fabio Feldmann, que ajudou a mediar o diálogo entre o governo e ONGs na Eco-92, o teor dos documentos não surpreende. “Florestas sempre foram uma questão de soberania, e isso unia até mesmo o PC do B à UDR [União Democrática Ruralista]“, diz.

Ele atribui ao Brasil parte da culpa pelo fato de o tema das florestas ter virado simples declaração política no Rio, quando clima e biodiversidade ganharam convenções das Nações Unidas. “O Itamaraty era terceiro-mundista, achava que a reunião era contra o Brasil”, afirma.

Francisco Rezek (chanceler em 1992) atribui a postura do governo ao “cinismo expropriatório” dos países ricos. “A posição do Brasil foi de cautela, porque sabíamos o que andava circulando lá fora. Em escolas americanas andavam circulando certos atlas mostrando a Amazônia como área internacional.”
O embaixador Celso Lafer, chanceler brasileiro durante a Eco-92, diz que a posição brasileira sobre o tema tem evoluído. “Hoje temos mais conhecimento”, afirma.

Fonte: Cláudio Angelo e Rubens Valente FSP

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