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Nicole Bustamante: Moda Slow Fashion!

Após 10 anos trabalhando na indústria da moda, a designer Nicole Bustamante resolveu arriscar a criação de uma marca autoral, mais alinhada à sua visão de mundo, que inclui o feminismo, o veganismo, a sustentabilidade e os direitos animais.

O resultado foi o lançamento da marca “Nicole Bustamante – Vegan Goods”, que atua com moda slow fashion, em oposição ao tão disseminado segmento fast fashion, que muitas vezes atropela valores em nome da produtividade e do lucro.

Buscando negar esse modelo, a “Nicole Bustamante – Vegan Goods” propõe produtos livres de itens de origem animal, exploração e preconceitos. Entre as seções da loja online, chama atenção a “Sem Gênero”, com peças criativas e básicas, que servem para qualquer pessoa.

Os modelos de camisetas, camisas, tops, aventais e lenços, assim como as estampas, são desenhados pela própria Nicole. Mas a marca envolve outras pessoas, incluindo sua madrinha que adora acompanhá-la nas feiras veganas.

Para a designer e empreendedora, a maior recompensa é ver alguém se sentindo bem vestindo uma peça criada por ela, já que o conforto e bem-estar nem sempre são considerados na moda tradicional, que propõe padrões de beleza excludentes para a maioria, levando muitos a se sentirem mal com sua aparência.

A marca pode ser encontrada em diversas feiras veganas, na loja online ou no Clube Vintage (Rua Augusta, 2664, Jardins, São Paulo/SP) e agora também na Loja Vegetariana. A agenda de participações da marca em feiras são sempre divulgadas pela página do Facebook Nicole Bustamante – Vegan Goods.

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Leia a seguir a entrevista do Portal Veganismo com Nicole Bustamante:

Renata – Além de ser uma marca vegana, no que mais a ‘Nicole Bustamante – Vegan Goods’ se diferencia da maioria das marcas de roupa?
Nicole – Assim, eu não tenho a pretensão de me dizer melhor ou mais inovadora que outras marcas, mesmo porque tem muitas marcas “Slow Fashion” bacanas surgindo por aí, que eu me espelho, inclusive!

O que eu posso dizer dela é que é uma marca que propõe um produto de qualidade, a preço justo, tem um conceito de bem-estar através do conforto e de um design atemporal – fugindo desse conceito de “tendências descartáveis” – livre de exploração animal, livre de preconceitos, divertida e de design autoral, que veste a todos, que valoriza todas as belezas, que tenta ser sempre franca e honesta no seu discurso e atitudes.

Tentamos tratar nossos clientes com toda atenção e carinho, tratamos nossos parceiros com o respeito que merecem, queremos uma relação justa e limpa com todos os envolvidos no processo.

Confesso que não é muito fácil seguir esse caminho, mas aceitei esse desafio e estou aprendendo a trilhá-lo. Ainda com muitos acertos e erros, mas feliz por ter o privilégio de poder realizar esse sonho e objetivo.

Renata – Explique mais sobre as tais marcas “Slow fashion” e este conceito?
Nicole – Slow Fashion é um conceito de moda antagônica ao fast fashion. Em resumo seriam marcas que tem um esquema de produção bem menor, focado na qualidade do produto, o que gera também produtos mais autorais e diferenciados, focado na pegada ambiental e na ética das relações profissionais. Não costuma focar em tendências passageiras ou obsolência programada, e sim em produtos com uma vida útil mais extensa.

Tem bastante texto bacana sobre o assunto e estamos presentes em um guia que está mapeando marcas desse segmento pelo pais. Vale a pena conhecer o projeto e as marcas divulgadas por ele.

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Renata: Como surgiu a marca ‘Nicole Bustamante – Vegan Goods’?
Nicole – Trabalho na indústria da moda há quase 10 anos e dos últimos anos para cá tenho sentido a necessidade de trabalhar em algo mais autoral e mais alinhado às minhas crenças pessoais. Depois de 1 ano fazendo apenas freelance para outras marcas, decidi arriscar na minha própria.

Foi um desafio bem grande, pois minha formação não é de moda e sim de design gráfico. Meu “know-how” era mais focado em estamparia, mas tive ajuda de amigos da área de moda que me foram cruciais sobretudo nesses primeiros anos da marca. Eles me auxiliam bastante na parte de construção das modelagens, curadoria de materiais e coordenação da oficina até hoje. É uma parceria comercial muito bacana e leal.

Renata – Tem mais gente envolvida na produção além de você?
Nicole – Além de mim tem a pessoa de desenvolvimento de produto que presta os serviços citados acima e os profissionais da oficina que finalizam o produto pra mim. Minha família me apoia muito também, em especial minha mãe e minha madrinha. Elas me dão conselhos, me ajudam em partes operacionais mais simples, como pregar um botão solto, fazer as embalagens das vendas online, colocação de tags e etc, e apoio emocional (risos).

Minha madrinha, uma senhorinha de 80 anos, pode ser vista sempre comigo nas feiras veganas que participamos. Ela adora! Na parte criativa das campanhas eu conto com um fotógrafo, uma maquiadora e diversos modelos fotográficos. E um diretor de arte mais experiente para auxiliar na direção criativa das fotos.

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Renata – Segundo o site da marca Nicole Bustamante – Vegan Goods, a matéria-prima utilizada nos itens à venda não contém nada de origem animal. De quê são feitas?
Nicole – Basicamente algodão, às vezes poliéster, como nas lonas dos aventais, tintas de silk à base de água que estou estudando para usar opções mais sustentáveis, plásticos específicos nos botões que pretendo substituir por botões de material mais natural, como madeira, por exemplo. Sempre que possível tecidos de saldo têxtil, tecidos de sobras das indústrias que seriam descartadas, e estudando para incluir materiais orgânicos em coleções específicas no futuro.

Renata – Você saberia nos dizer quais são os animais mais explorados pela indústria da moda?
Nicole
– Podemos dizer que os bovinos seriam os animais não humanos mais explorado nessa indústria. Entre tantos outros animais que têm suas peles, couro e penas extraídos, esses são os mais explorados “numericamente” falando. Mas não me julgo expert no assunto, por isso tenho dois  excelentes textos sobre o assunto que falam um pouco sobre isso. Neles têm outras referências para quem quer realmente entender mais sobre o assunto:

Por que não devemos usar couro / pele de animais?

Couro ou sintético: o que levar em consideração antes de fazer sua escolha?

O animal humano também e bastante explorado pela indústria têxtil no mundo inteiro. É uma das indústrias que mais utiliza mão de obra análoga à escrava, perdendo apenas para indústria pecuária e de extração mineral.

Renata – O que você poderia comentar sobre moda e feminismo?
Nicole
– Assim, a marca é como um espelho da pessoa por trás dela, portanto, de seus valores. Por mais que a marca seja vegana, você não verá camisetas escritas “veganismo” ou algo do tipo; esse não é o foco da marca. Já existem outras marcas veganas comercializando esse tipo de produto, marcas amigas inclusive. As causas aparecem de um modo ou de outro no meu trabalho.

Seja na escolha de modelos para campanha, ou nas fotos de mood que escolho para o Instagram, que não tem apenas fotos de produtos à venda, gosto de divulgar meus desenhos e trabalhos artísticos de colegas que admiro e compartilhar minhas referências artísticas pessoais com os clientes, ou no simples fato de que a melhor parte desse trabalho pra mim é ver uma pessoa feliz usando algo que eu criei.

Quando pessoas que não são contempladas pelo mercado de moda tradicional, seja por causa de sua etnia, peso, estética e etc, se sentem representadas ou se identificam com a marca, pra mim é algo engrandecedor.

É algo motivador sobretudo quando mulheres se sentem bem usando uma peça que eu criei. Conversando, percebi que mulheres em geral, especialmente as “fora do padrão”, sentem que o foco do que é vendido para elas é fazê-las sentir-se mau e inadequada por não parecer com aquele modelo de beleza que essas marcas estão propondo, e esses padrões são tão excludentes que a maioria das mulheres se sentem assim.

As marcas focam tanto em vender uma imagem, uma fantasia, um desejo inatingível que acabam ignorando a realidade de 90% do seu público. E ao invés de aquela imagem tornar-se uma fantasia ou uma aspiração ela trás uma grande dose de opressão pela quantidade de vezes que essa fórmula e esse padrão é repetido, então essa mulher normal se entende como “anormal” e isso gera todo tipo de problemas de auto-estima, sobretudo em mulheres adolescentes e jovens.

Esse cenário já está ao poucos e muito lentamente melhorando. Quero definitivamente fazer parte desse movimento de mudança, onde as pessoas se sintam incluídas, contempladas e empoderadas.

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