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Você conhece V de Vingança? E o Guy Fawkes?

No passado, o uso de de linguagens verbais e não-verbais eram utilizados por diversos povos nos quatro cantos da Terra, nos primórdios da comunicação humana a associação de sons, símbolos, odores, sentidos táteis e o estabelecimento da linguagem oral e representações gestuais foram e são utilizadas até hoje para estabelecer associações que permitam a comunicação entre os indivíduos.
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Em meio as diversas formas de se comunicar, o uso de máscaras também é um símbolo utilizado para tal finalidade, possui os mais diversos significados e representam grupos sociais; na Grécia antiga durante as festas dionisíacas os gregos cantavam, dançavam, bebiam, realizavam orgias e utilizavam máscaras para homenagear e evocar o Deus Dionísio, conhecido como o Deus do vinho, da alegria, das festas e fertilidade, as máscaras também eram utilizadas nas peças de teatro gregas como forma de mostrar a união, a transformação do todo em um ou mostrar nas peças expressões faciais exageradas para dramatizar o espetáculo; tribos africanas e outros diversos povos utilizavam as máscaras em rituais sagrados; nas cerimônias nativos brasileiros usavam máscaras simbolizando animais e insetos; durante etapas de guerra indígena até as pinturas corporais eram diferentes; em cerimônias de cura os índios mais velhos também usavam mascaras, até o inicio da transformação delas em itens de consumo no séc. XVIII e XIX.

Mas, afinal qual o significado da máscara do V de Vingança (ou Anonymous)?
O que querem dizer os manifestantes que utilizam essas máscaras, será que pelo menos a maioria sabe o que está usando e representando?

Devido a todo movimento “coxinha” que tem se instalado nas últimas manifestações e em toda rede social, acredito fielmente que não.

anonymous-máscara-vingança-manifestações-brasil-são-pauloVejamos. Primeiramente, o rosto estampado na máscara não simboliza os hacktivistas (verdadeiros) dos Anonymous, a própria definição de “anônimo” nos dicionários já classifica o termo como sendo sem identificação, aquele que não assina o que faz, que omite sua identidade, sem nome, sem face, podemos notar isso através do próprio emblema real dos Anonymous.

No entanto, os hacktivistas usam a máscara remetendo ao belo filme “V de Vingança”, não sendo então a máscara propriedade intelectual ou representativa do Anonymous.

Em segundo lugar, o filme por sua vez, faz referência a história do soldado católico Guy Fawkes que devido a opressão e perseguição aos católicos tentou explodir o novo Parlamento britânico no momento em que o Rei Jaime I iniciaria os trabalhos em 5 de novembro de 1605.

No filme V de Vingança, a única relação do Codinome V da Inglaterra moderna com o especialista em explosivos Guy Fawkes se dá em seus atos de não-conformidade e resistência em relação ao governo, sendo que V de Vingança era um anarquista convicto (apesar dos cortes de discursos anarquistas que estão presentes nos HQs), bem diferente de Fawkes que era um soldado opositor da monarquia protestante e que queria recuperar o poder da igreja católica para a coroa inglesa. Outra diferença significativa entre as duas histórias é que somente na ficção o Parlamento foi explodido.

guy-fawkes-camaleaoA Conspiração da Pólvora como ficou conhecido o ocorrido era composta por opositores católicos que alugaram uma casa ao lado do Parlamento, em Westminster, e a encheram de pólvora para a explosão, porém, com receio de atingir inocentes, os membros enviaram recados para certos aliados não comparecerem ao local no dia 5 de novembro, recado que acabou chegando aos ouvidos de James que logo mandou uma busca pelo prédio, o plano foi então descoberto, Fawkes não conseguiu acender a pólvora e foi capturado, condenado à morte por enforcamento e esquartejamento e a partir disso como sabemos que sempre quem ganha a guerra é quem conta a história, Fawkes foi “mascarado” e tratado como um vilão e inimigo da Inglaterra, somente séculos depois e pela perspectiva de novos historiadores que ele foi se tornando um ícone da rebeldia e luta contra um Estado autoritário, na época, a monarquia protestante do séc. XVII.

Após sua captura, ele foi levado à presença de Jaime, e frases memoráveis surgiram. O rei perguntou por que o objetivo era matar tanta gente – a família real, todos os parlamentares e demais membros?

“Tempos desesperadores exigem medidas desesperadas”, respondeu Fawkes.

O rei insistiu na pergunta. Para que tanta pólvora? “Era a maneira mais rápida de mandar todos os escoceses de volta à Escócia”, disse Fawkes. Esse ato de coragem serviu para o consagrar como ícone de luta séculos depois.

De fato, a construção de um ícone libertário, justiceiro, revolucionário e anarquista, só veio com a criação do Codinome V pelo artista David Lloyd para o filme V for Vendetta (V de Vingança) com roteiro de Alan Moore, portanto, a máscara foi apenas inspirada na face de Guy Fawkes, mas todo seu significado baseia-se nas citações e atitudes do anarquista do filme e dos quadrinhos, o V de Vingança, um herói no mínimo misterioso que trava sua luta não apenas para a defesa de seus propósitos, mas também pelo povo e clamando ao povo para lutar consigo em sua vingança que passa a ser uma revolução contra o governo.

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Em terceiro lugar, agora que está claro toda a história por trás da máscara do herói anarquista, vale ressaltar que não temos nada contra as pessoas que usam ou decidirem usar a máscara daqui pra frente, mas sim com o uso alienado, com os diversos posicionamentos incoerentes de pessoas despolitizadas que desonram uma máscara símbolo da esperança, liberdade e justiça, pessoas que vestem o extremo nacionalismo (não confundir com patriotismo), pessoas que pedem pela não violência e oprimem militantes partidários e anarquistas, pessoas que traem o próprio povo servindo de massa de manobra para interesses dominantes e que segundo o próprio V acabam adotando a forma de pensar “que eles criam e querem que pensamos.”

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Por exemplo, o caso dos ditos “vândalos” que ora são vandalizados pela mídia e pelo Estado e ora são alvos de traição por parte de manifestantes omissos que se sentam nas ruas pela manutenção da ordem, tal “ordem e progresso” que é o próprio motivo de estarem nas ruas, ordem que é a mesma responsável pela morte e repressão de milhares de civis e ativistas no mundo todo, principalmente no Brasil, portanto, escolham suas máscaras, escolham suas bandeiras de forma consciente e quanto ao posicionamento dos manifestantes citado acima, creio ser válido finalizar com um simples pedido, imaginem por um segundo se os ativistas contra o regime Apartheid entregassem seus companheiros de tal forma em décadas passadas, aquele governo autoritário e racista existiria até hoje.

 

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