Pecuária com sustentabilidade e bem-estarismo são as metas do PV
O Partido Verde (PV) é um partido político brasileiro, formado em 1986 por ambientalistas, após o avanço das tendências ambientalistas europeias. Possui como valores a ecologia, a democracia, o municipalismo, a espiritualidade, o internacionalismo, entre outros princípios.
Da fundação do partido a atualidade, o Partido Verde sempre se mostrou aliado aos propósitos econômicos, sociais e ambientais, em suas diretrizes programáticas para as eleições de 2014, isso é reforçado e deixado muito claro, nos itens de programa do PV.
No oitavo item de governo do Partido Verde, que trata da Cultura de Paz, no inciso oito, as diretrizes demonstram que o pensamento dos verdes é implementar, incentivar e desenvolver uma pecuária que seja sustentável e que os animais de produção, os de estimação, os de trabalho, os selvagens e os de laboratório (foi assim que os animais foram citados no programa) sejam utilizados para os fins econômicos de uma forma “humanitária”.
A alegação do desenvolvimento sustentável da pecuária e a continuidade do uso de animais para os diversos fins de consumo (carne de vitela, porco, peixe, frango, vaca, leite, ovos, mel, etc), fins de estimação (comércio de animais), fins de trabalho (carroças, passeios, apresentações, etc), fins laboratoriais (testes em animais e vivissecção) é de que tais medidas vão impactar positivamente a economia com a criação de novos mercados, a saúde pública, a saúde ambiental (?) e a vida dos animais (?).
Tal posicionamento favorável a agropecuária com uma perspectiva sustentável e bem-estarista pode ser constatada nas Diretrizes do PV, no Programa de Governo do Partido Verde para o Estado de São Paulo no site oficial do Partido Verde e em entrevista concedida pelo candidato a Presidência da República Eduardo Jorge para a Folha de SP em junho desse ano, onde o jornalista Fernando Rodrigues afirma que “o programa do PV fala em implementar o bem-estar dos animais no país, com regras que garantem suas necessidades físicas e psicológicas”.
Nas diretrizes do programa os animais são citados como animais de produção, animais de estimação, animais de trabalho, animais de laboratório, animais trabalhadores, cabeças de gado e bem estar animal (colocado como se fosse um “novo abolicionismo?”).
Uma das propostas para o setor agropecuário / agronegócio, é a criação de gado estabulado e em pastagens melhoradas, pomares agroflorestais, irrigação mais eficiente poupando água, aplicações para água de reuso na irrigação e introdução de novos alimentos que tenham menor pegada hídrica e ambiental.
Por que o Bem-Estarismo é errado?
Diferente do abolicionismo que prega o fim da exploração dos animais. O bem-estar animal prega que os animais podem ser utilizados para os fins humanos desde que seja resguardado o mínimo de cuidados no tratamento de uso e morte dos animais.
Na prática toda a exploração combatida pelo movimento de direitos animais é colocada em um patamar “pouco menos cruel” e regulamentada, o que ocasiona, na regulamentação, aprovação e validação dessa prática de uso dos animais para fins humanos (seja ela uso de animais para consumo de carne e derivados, uso de animais para carroças, uso de animais em laboratórios e outros mais).
Existe também um grande impacto negativo na consciência do consumidor que passa a acreditar que “agora os animais são bem-tratados” e com isso o produto ou serviço que explora os animais é visto com bons olhos por “tratar bem os animais” e a sociedade passa a continuar consumindo e ainda a incentivar o consumo de tais produtos de origem animal.
Uma medida perfeita para aquelas pessoas que queiram perpetuar e incentivar a Pecuária no Brasil.
O bem-estar animal é apoiado pelas principais indústrias que usam os animais para produção de carne, frango, leite, ovos, etc como uma medida altamente lucrativa e benéfica para a imagem da empresa.
Eduardo Jorge e sua relação com alguns animais
O candidato do Partido Verde a Presidência da República, o médico sanitarista Eduardo Jorge, não come carne vermelha a mais de 10 anos e em 2011 tornou-se ovolactovegetariano e é conhecido por ser Ex-Secretário do Verde e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, período onde ajudou na inauguração da campanha ambientalista Segunda Sem Carne.
Ambientalistas não são animalistas
Ativistas de direitos animais e ativistas ambientalistas divergem em suas propostas, boa parte dos ambientalistas pregam o ecocentrismo (onde o meio ambiente é o centro das decisões), essa premissa ignora e desqualifica a importância dos indivíduos existentes no próprio ambiente, os animais são tratados como uma espécie e não como um indivíduo.
Os animais são vistos como recursos e medidos em termos de impacto (assim como é analisado as práticas humanas e seus impactos ambientais) e não como indivíduos sencientes e sujeitos de direitos que são.
A filósofa Sônia T. Felipe foi feliz em apontar essa inconsistência na corrente ecocentrista em seu texto “Antropocentrismo, Senciocentrismo, Ecocentrismo, Biocentrismo” na coluna Questão de Ética na ANDA e o filósofo Carlos Naconecy no programa Contra Plano na TV Educativa em 2007, também apontou que existe uma divergência entre os dois movimentos e que “podemos ter uma situação de opressão que seja sustentável”, portanto, consistente com os ideais ambientais e antiética com os ideais animalistas.
Nota da Redação: É importante que ativistas de direitos animais não confundam defesa de questões ambientais com defesa de questões animalistas, ambientalistas não necessariamente vão fazer a defesa dos direitos animais (abolicionismo real e verdadeiro).
O movimento de Direitos Animais somente será devidamente representado no âmbito político quando veganos ou veganas (abolicionistas – pleonasmo) estiverem a frente das candidaturas e não como é feito atualmente por outros movimentos ou defensores de outras causas que com uma frequência absurda recorrem ao bem-estarismo acreditando estar falando em nome dos animais.
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